Guardo um segredo na minha gaveta de meias.
Um segredo que só cabe lá e no meu coração.
Guardo um segredo na minha gaveta de meias.
Um segredo que só cabe lá e no meu coração.
"Eu sei que depois eu vou respirar tranquila e ficar orgulhosa, mas por enquanto está doendo."
- foto de uma pessoa sofrendo ao escrever um trabalho acadêmico / estudando
- foto de uma pessoa fazendo faxina
- foto de uma pessoa parindo/criando uma criança
- foto de uma pessoa fazendo atividade física
- foto de uma pessoa rejeitando uma comida ou bebida gostosa porque está de dieta
- foto de uma pessoa fazendo uma tatuagem
Vou lhe chamar "narrativa psicológica", porque talvez nunca me lembre na ordem certa quais são as passos que devo obedecer para costurá-lo novamente, porque sua estampa não tem a mínima lógica e deve ter sido organizada de acordo com a memória de quem a concebeu, mas principalmente porque consigo me lembrar de flashes do momento de sua criação - que apesar de ter sido muito longa - mostra agora que o tempo que passei me queixando da demora é irrelevante.
Dá pra saber pela minha escrita quando estou envolvida com os trabalhos da faculdade.
Eu não sei o nome do que escrevo, mas continuo escrevendo mesmo assim.
É como não saber o nome do que se sinto pra explicar à psicóloga, e continuar sentindo mesmo assim.
Madalena essa semana me arrebatou com as palavras. Tomei nota desesperadamente das frases que ela falava, não por ser relevante para o meu projeto, mas porque estava sendo relevante para mim, ela disse, num contexto em que as palavras se faziam urgentes para as pessoas e que eu não vou conseguir replicar aqui a intensidade de como essa frase recaiu sobre mim: "Tudo é uma questão de dar nome, Mariana".
O vandalismo na porta da UERJ me fez rir mais do que eu deveria. Eu sabia que era errado, que jamais faria algo assim, mas o sentimento de ver o nome da minha casa, num lugar em que eu ainda não pertencia, falou mais alto e eu ri sem parar por uns dez minutos. Depois disso eu não conseguia passar por aquele corredor sem olhar pra porta com carinho e ver que aquele vandalismo escancarado tinha um pedacinho de mim e, mesmo que isso não faça o menor sentido, esse foi um fator que me fez sentir pertencente à FFP a partir daquele dia.
Esses dias, no trabalho, peguei a demanda de uma fornecedora para avaliar e a primeira questão tinha um poema do Eucanaã Ferraz. Olha. Eu não sou grande conhecedora de poesia, nem sei avaliar o nível de fama dos poetas contemporâneos, mas algo me disse que essa fornecedora tinha que ter tido aula com ele na UFRJ pra chegar ao ponto de colocar um poema dele na demanda de elaboração. A questão estava bem ruim, tive que refazer e tirar o poema dele de lá, porque não servia para o propósito gramatical que estávamos buscando avaliar. Ainda assim, aquele pedacinho de Rio de Janeiro num trabalho que me transporta diariamente a Minas todos os dias me deixou muito feliz.
Tenho estado assim ultimamente, procurando familiaridade nas coisas, me sentindo estrangeira nos lugares.
Antes de qualquer coisa eu não sou uma dona de casa. E assim como não vou conseguir me aposentar nunca, porque minha carteira de trabalho tem 237 contratos de menos de 12 meses e só agora eu consegui um emprego decente (eu ouvi um amém?), minha experiência com afazeres domésticos é podre. Eu não sei cozinhar nada além de brigadeiro, cookies, onigiri e miojo (e mesmo assim há quem diga que meu miojo é muito mole).
Estava eu, esfregando o refratário que está de molho há três dias no limão quando me dei conta de que não estava conseguindo prestar atenção no dorama que coloco pra lavar louça (Papel de rainha, Netflix). Cara, que prato foi feito naquele pote de vidro? Mãe, não o faça NUNCA MAIS. E então começaram as epifanias: então será que é assim que as donas de casa malham e mantém a forma? Eu fiquei mais de trinta minutos tentando limpar aquele negócio e não saiu. O queijo estabeleceu um relacionamento sério, e muito sólido, com o vidro. Eles não querem se separar nunca mais. Até que isso é bonito.
Desliguei o dorama, coloquei a água pra esquentar e decidi que ele vai ficar de molho por mais três dias.
Tomara que essa dor no meu peito seja algo que o médico resolva com um remédio, porque se for amor eu não aguento mais.
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
– "Quem me
dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no
eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela,
fitando a lua, com ciúme:
Que, da grega
coluna à gótica janela,
Contemplou,
suspirosa, a fronte amada e bela!"
Mas a lua,
fitando o sol, com azedume:
– "Mísera!
tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade
imortal, que toda a luz resume!"
Mas o sol,
inclinando a rútila capela:
– "Pesa-me
esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta
azul e desmedida umbela...
Porque não nasci
eu um simples vaga-lume?"
ASSIS, M. Ocidentais.
Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.
Música: As quatro estações, Sandy e Júnior
Como é:
Na primavera, calmaria
Tranquilidade, uma quimera
A conversa do bar diz
que se eu não fui pra balada na adolescência nem comi
cogumelo
eu não vivi.
Então fica a pergunta:
Como se chama a minha existência?