terça-feira, 23 de julho de 2024

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Batata Quente

Se eu te entregasse agora o meu amor
aceso como ele está,
como ele está, pesado,
você o trocaria rapidamente de mão,
você o guardaria um pouco na esquerda,
um pouco na direita,
por quanto tempo antes de o passar adiante?

Ana Martins Marques

Sou uma nômade do ar

Consigo identificar as tartarugas leões que passaram por mim. Sinto que em passos bem pequetiticos e lentos começo a organizar minha viagem, quero embarcar numa, sei que virão outras. 

Quero conversar com o mundo em eterno silêncio e entender cada palavra cantada pelos passarinhos. Tenho medo, curiosidade e fascínio por presenciar o surto de uma alma aprisionada. 

Até lá, vou tecendo bichos e mantas e coisinhas, como uma boa Penélope. 

O fantasma peruano

O fantasma peruano é algo que se sente. Uma lembrança espectral do que se sentiu. Uma memória vívida de um corpo ausente, que torna a forçar sua presença num espaço silencioso, porém vivo. Todas as paredes, de repente, aprontam-se, temerosas, para sua chegada. Paredes sentimentalistas que guardam a lembrança de outros fantasmas igualmente transitórios.

Paredes de uma casa vazia, veja bem. 

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Você não acha estranho a educação ter se tornado um produto?

Alunos e professores viram cliente, os responsáveis legais viram compradores/pagadores. Não é meramente uma questão de nomenclatura, é a naturalização da venda de um bem imaterial que é direito de todos. É a terceirização de um papel que é responsabilidade do Estado e da família. 

A escola deixa de ser um espaço de formação cidadã para tornar-se uma fábrica de marcadores de X. De que adianta elaborar PPP, cumprir burocracias para dar 'check' na letra da lei? Onde fica o pensamento crítico numa cultura linguística mercadológica? Não fica, né?

O interesse em domesticar o estudante; indivíduo que passa os primeiros 15 da vida no ambiente escolar, vai além da minha humilde compreensão. No entanto, me dói desconfiar de um projeto por trás da comercialização da educação. 


pequenas, apenas, ao vento

Tudo que eu fiz nessa vida foi com palavras. Eu aprendi com palavras, ensinei com palavras, conquistei com palavras, trabalhei com palavras, li e chorei por palavras. Me expressei com palavras (e como tentei fazer isso), cantei com palavras, comi palavras, às vezes apenas letras. Me aninhei em palavras, me agarrei a palavras, me encantei com palavras. 

Parte do que eu fiz nessa vida foi com imagens. Guardei lembranças em imagens, me surpreendi com imagens, provei com imagens, aprendi com imagens, me silenciei com imagens. 

Qual é a sua forma de linguagem? 

terça-feira, 16 de julho de 2024

Eu, criança

Quando eu me mudei pro Rio era só uma menina. Braba demais, doce demais, ingênua demais. Tive uma semana para ajudar com a mudança, arrumar minhas coisas e me preparar mentalmente para a nova escola. Houve uma reunião de pais, claro que a minha mãe estava trabalhando. Fui na escola por mim mesma, "Oi, eu vim pra reunião de pais. Minha mãe não pôde vir, então eu vim pra saber das coisas". 

Olharam pra baixo e me viram. Baixinha, gorduchinha, bochechuda, moreninha, cacheada e muito certa de que tava fazendo a coisa certa. Entrei na sala de aula e me sentei na primeira fileira. Uma tia veio me perguntar o que eu estava fazendo ali, expliquei de novo. "Em que ano você vai estudar?", "Sétimo", "Minha sobrinha também, você pode ser amiga dela, o nome dela é Flávia" (foi algo assim). Foi a conversa que tive com a Dinda, antes de uma coordenadora me expulsar da sala, dizendo que eu não podia assistir à reunião. 

Passei a reunião do lado de fora, sentada na escada de madeira, esperando acabar.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Vovó Bernardina

Por mais uma noite minha avô se instalava no sofá da sala pra ver novela fazendo crochê. Pedi uma roupa pra minha boneca da Sandy mais uma vez, na esperança de que ela fizesse depois de terminar sua lista infinita de encomendas. Minha avô fez chinelos decorativos, barra de pano de prato e roupas para bebês e crianças. Eu fui mimada pelos trabalhos artesanais da minha avó, não posso negar, mas o problema da criança mimada é que ela quer sempre mais. Então, não me bastava que ela bordasse paetês por cima das minhas regatinhas-de-ir-brincar-na-casa-das-meninas-da-rua, eu queria roupa de boneca também. 

Um dia ela me deu uma agulha e um rolinho de linha. Me mostrou como fazia a correntinha. Fui fazendo em disparada. A voz da minha avó ressoa ainda hoje dentro da minha cabeça "Olha, Sêli*, como que ela tem jeito". 

Não demorou para que um dia eu chegasse na casa da minha avó e a Sandy estivesse vestida com um conjuntinho azul marinho de tecido, costurado na máquina, com uma barrinha de crochê vermelho super delicado. Obrigada, vó. 

*O nome da minha tia é Sueli, mas ela às vezes falava desse jeitinho, como se o U quase não existisse. 

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Sozinha, com fome e pressa

 Um pouco de queijo tipo cottage, um pouquinho de creme de leite, uma pitada de sal. Biscoitos tipo doritos, só que gayritos. Fiquei me sentindo a tal.

Agora preciso aprender a fazer carne com molho. 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

City and colour 2.0 revival

 


If I could gather up all the hateLight a match and burn it all awayThen with compassion in my voiceI would sing this songIn hope that we might find a better way
And bow down to loveBow down to loveBow down to love
And when I think about all the painThat the carnage of wealth always leaves in its wakeAnd how nowadays it seems that we fear ourselves the mostWell, I hope you can find some solace in this poem
And bow down to loveBow down to loveBow down to love
Let's come down easy

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Lá vem julho

Lá vem julho pra me lembrar de velhas paixões. Bolo de chocolate, inverno, dias curtos e noites longas. Lá vem julho pra me cobrar mais aventuras. Listas, filmes, livros, projetos. Lá vem julho me cumprimentar por estar nesse mundo mais um ano. Feliz mês, feliz dia, feliz julho pra mim <3

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Cardápio de gente

 Foto ilustrativa, cheia de filtros e retoques, pensada milimetricamente para aquele quadrado. Algumas informações nutricionais, para prevenir alergias graves "Não quero filhos", "Esquerda", "Não fumo". E um simples gesto, aprovação, desaprovação ou estrelinha (pra agilizar a vida, como fast food). 

Muita gente pra comer, poucas que realmente querem saborear a ainda, porém digna, comida.