Por mais uma noite minha avô se instalava no sofá da sala pra ver novela fazendo crochê. Pedi uma roupa pra minha boneca da Sandy mais uma vez, na esperança de que ela fizesse depois de terminar sua lista infinita de encomendas. Minha avô fez chinelos decorativos, barra de pano de prato e roupas para bebês e crianças. Eu fui mimada pelos trabalhos artesanais da minha avó, não posso negar, mas o problema da criança mimada é que ela quer sempre mais. Então, não me bastava que ela bordasse paetês por cima das minhas regatinhas-de-ir-brincar-na-casa-das-meninas-da-rua, eu queria roupa de boneca também.
Um dia ela me deu uma agulha e um rolinho de linha. Me mostrou como fazia a correntinha. Fui fazendo em disparada. A voz da minha avó ressoa ainda hoje dentro da minha cabeça "Olha, Sêli*, como que ela tem jeito".
Não demorou para que um dia eu chegasse na casa da minha avó e a Sandy estivesse vestida com um conjuntinho azul marinho de tecido, costurado na máquina, com uma barrinha de crochê vermelho super delicado. Obrigada, vó.
*O nome da minha tia é Sueli, mas ela às vezes falava desse jeitinho, como se o U quase não existisse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário