Cat

 Depois de tia entendi algo que já deveria ter visto há muito tempo. Percebi que quando nós amamos muito alguém, queremos que essa pessoa não sofra, não chore, não caia, não cometa os mesmo erros que cometemos e que por vezes nos tornamos pessoas por demais protetoras nessa vontade surreal de evitar que a pessoa(inha) amada não tenha momentos (ou memórias) ruins. 

The dark side of the cancerianos

 Cada vez que você me procura o meu corpo treme de um jeito sobrenatural. É como se ele agisse por conta própria, mandando uma mensagem

"Caso a sua mente falhe por um segundo e pense em ter contato com esse verme, lembre-se do que nós - corpo e mente - vivemos"

Depois de quase três horas completamente desestabilizada, voltei ao meu normal e me permiti sentir, como dizem por aí, "por cima da carne seca", a sua, claro. Seca, desprezível, desprovida de dignidade. Na próxima encarnação, se eu não nascer canceriana, eu te perdoo e dou a graça da minha palavra. Até que isso aconteça, você fica só com meu desprezo mesmo. 

24/10/20 - Oda al ganchillo

Oda al ganchillo

 El arte de manejar agujas y líneas Sin sacar la sangre a nadie

En el que hay algo de fantástico

Con media vareta y anillos mágicos

Suave tensión, dulces lazos

El vestido del bebé

La muñeca de mi prima

¿La abuela le enseñó a hacer?

Sí, cuando era niña

Y sigo haciendo 

Hasta que un día pueda enseñar a alguien

Que enseñará a alguien

Que regalará a alguien  

Que ya no sabrá nombrarme

Pero...

Estaré atada a esta persona

Por el hilo invisible 

Que teje nuestra vida

el magnífico ganchillo 

1 mês de esteira lenta foi o meu récorde

 Escrever trabalhos acadêmicos é como ir à academia. No começo dói muito, mas com a constância você começa a ver resultados e acaba ficando mais fácil de levar. 

A defesa

 A apresentação e defesa do meu trabalho se assemelha ao meu gosto por ler livros físicos. Quando eu estou na presença do livro, a sensação é diferente, mas há situações em que você não pode carregar o peso das folhas, se deslocar até a livraria ou pagar por essa companhia. 

Então, você se contenta com o ebook, prova um fragmento da experiência e ainda se dá por agradecido, porque se não fosse pelo digital, você não teria nada. 

Já deu pra notar que eu sou uma pessoa analógica, não é? 

Cortar relações

 Por algum motivo não aparente meu cérebro se lembrou do Seu Adolfo. Um homem oportunista que roubou grande parte do que a Dona Marlene tinha, a deixou só no momento de doença e ainda ofendeu toda a família com palavras. Também me lembrei de que esse mesmo homem pareceu estar muito feliz ao dançar comigo na posição de avô quando completei 15 anos. 

Por algum outro motivo desconhecido, quis saber se ele está vivo e bem. 

Cortar relações tem diferentes significados quando se tem 15 ou 26 anos. Uma hora você só quer que essa pessoa vá a merda e não volte nunca mais, no outro, você consegue ponderar, querer que a sua raiva passe e esperar que essa pessoa esteja pelo menos bem, por outras lembranças que você tem com ela. 

Manuel Bandeira

 Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

3/8/21

 Começo a refletir sobre o que me faz vibrar, aquilo que me faz verdadeiramente feliz. 

Lembro-me de que na faculdade o professor Miguel perguntou se eu era sempre assim, animada. Hoje me vejo mais contida, não sei porquê. Com essa síndrome de educação e bom comportamento.  

É cômodo ser mediano. Estuda mais ou menos, trabalha mais ou menos, salário mais ou menos, não consegue decidir o que fazer, o que estiver tá bom, felicidade mais ou menos é isso. 

Impressões

Viver, vida decente, sobreviver, juntar dinheiro pra não morrer.

Quem fez graduação, pós, mestrado ou doutorado é a pessoa que conseguiu abrir mão do tempo de trabalho para próprio sustento (ou ócio) para concentrar-se, vencer a preguiça, a ansiedade, a depressão, a própria auto estima para escrever sobre um assunto que ninguém vai ler, não vai mudar nada do que acontece na realidade e ainda vai ficar lá, perdido, na terceira página de pesquisa do Google. 

Estranho pensamento

 Talvez eu tenha nascido para ficar sozinha. Queria fazer um teste por algum tempo, do jeito que dizem "estamos só passando uma chuva", na certeza de que não dura pra sempre e a tranquilidade de que algo vai mudar, magicamente, depois desse tempo. É muito triste pensar dessa forma. 

O episódio

Uma vez por ano eu me permito lembrar de você por mais de 10 minutos.  
No domingo compro um livro em sua memória, na noite de segunda sonho com você dizendo, numa conversa de quem caminha pela rua falando amenidades, que jogou o meu fora. Até em sonhos você me despreza. Já desisti de tentar entender porquê não esqueci, mas você podia pelo menos ser gentil na minha imaginação, não é?

Haiku

 Casamento é querer muito dizer okaeri pra quem chega. 

Ô fasezinha, viu?

 Ando tão magoativa ultimamente que a menor palavra dita (e também a palavra não dita) me deixa triste. A cara amarrada, a falta de questão, sabe? 

Todo mundo se comporta de uma forma. Todo mundo se expressa de uma forma. 

Já sei disso. Eu. Já. Sei. Disso. 

O problema é a minha cabeça internalizar essa sapiência e voltar ao normal. O normal que, nesse caso, é não pensar com tanta intensidade num assunto que passou, que não precisa ser tão difícil.

Wotakoi, Bakuman, Samurai X e Death Note

 Venho devorando meus mangás há alguns meses depois de longo hiatus sem ler absolutamente nada (apesar de continuar comprando). 

Desde o começo da pandemia li quatro coleções completas: Death note, Samurai X, Bakuman e Wotakoi, nesta ordem. Precisei tomar um pouco de coragem para "dar início ao fim" já que não venho mais me interessando por coleções como antigamente - porque as histórias não estão tão boas como antes. Com a coragem acumulada de anos com medo de ler e acabar com tudo da estante, comecei por Death Note, lá do início. 

No fim, achei o desenvolvimento da história de Kira fraco e desnecessário após a morte do L. Fiquei esperando por um desfecho digno para a Misa Misa, mas ela ter virado um tipo de "freira" dos seguidores de Kira respeitou 100% de tudo que a personagem construiu ao longo do mangá e corresponde ao que se esperava dela. Meu sentimento em relação a esse mangá é mais saudosista, mas não entra naquela categoria que me dá vontade de abraçar e ter pro resto da vida. 

Li e assisti Samurai X ao mesmo tempo, o mangá e o anime são bastante diferentes (e o mangá é melhor, é mais sério). Amei cada partezinha, cada personagem, os vilões de arco eram muito bons, sensacional. Resolvi ver todos os filmes também. Kenshin ganhou um espaço no meu coração, eu amei, leria tudo de novo. 

Bakuman também foi um mangá bem legal, mais pacato. Parecia mesmo que eu estava conhecendo pessoas que trabalham duramente produzindo mangás e tentando lançar um anime. A dupla de amigos era muito unida, cada um com suas características. Tem um final fofo que faz um carinho no nosso adolescente anterior. Ah, ele também foi o responsável por criar uma amizade muito boa lá no trabalho - abraço pro Marcos, fã nº 1 de One Piece.

Wotakoi. O que está sendo Wotakoi na minha vida de ir e vir de Niterói três vezes por semana? Falta um mangá e meio pra terminar, eu praticamente engoli essa coleção. Ganha pela simplicidade, apresenta personagens e você se vê um pouco em cada um deles, parece que está lendo a si mesmo numa realidade alternativa. Me fez lembrar de pessoas queridas e repensar uma coisa muito legal em mangá que é o valor que se dá para coisas muito pequenas, tipo tomar bubble tea, ir ao fliperama com os amigos ou ter alguém com quem compartilhar aquilo que você gosta. 

Espero que quando terminar de ler tudo que tenho na estante, eu possa conhecer sempre histórias novas e tão boas que me tragam esse sentimento de que estou no meu lugar, lendo o que gosto.  

Espero

 Ouço um grande silêncio em meu peito.

Utada Hikaru curando minhas feridas mais uma vez

 Essa deusa, to toda arrepiada. 

First Love

Come back to me 

Flavor of life 

Automatic 

Traveling 

Prisioner of love 

Can you keep a secret 

Sakura 

Anata 

宇多田ヒカルの史上最高の歌 - Hikaru Utada Greatest Hits - ひかる うただ ２０２０ - 宇多田ヒカルフルアルバム - YouTube

Meu movimento artístico literário particular

Abandonar-se aos poucos para se reencontrar consigo mesma, numa versão melhorada. Vivendo pelos seus sonhos, perdendo energia vital com coisas felizes que precisam dela, como fogos de artifício e uma viagem para o Japão. 

Não é como se você abandonasse de uma vez todas as características do Romantismo, ninguém bate um martelo e diz "a partir de agora vocês serão só humanistas, ok?".

É apenas ser mais um pouco das outras coisas, outras fases e não ficar tão focada, nessa secura do idealismo.

Lógica

 Às vezes a gente acha que vai funcionar assim:

Se você não faz com a pessoa, ela não faz com você.

Mas a pessoa vai lá e faz, sem motivos, sem razões.

E você pensa, "mas eu fui bom pra você e te tratei com respeito"

E chora, magoado, sem entender por que recebeu algo que você jamais pediu ou mereceu.

Memória afetiva

 Dei para acordar hoje com uma saudade do tempo em que passava o dia lendo revistas Witch, do tempo que sentia um sono incontrolável pela tarde quando voltava da escola e ficava chateada por acordar já com o sol posto, do tempo que eu me sentia livre saindo de casa e dizendo "estou indo a biblioteca, volto em uma, duas horas", do tempo que eu tinha aulas de espanhol segunda e quarta às 15h no CCAA - contra a maré de todos os amigos que estavam nessa mesma hora saindo do inglês.

Dei hoje para sentir saudade de um tempo que parece tão longínquo, mas que foi ontem. Da adolescência que passou e que está aqui tão vívida, tão latente, quase tão grande quanto meus pequenos grandes amores da época. Espero que essas memórias permaneçam comigo, doces, felizes. Para que eu volte nelas sempre que acorde desse jeito.  

Iitoshi

Sigo encontrando xuxinhas no chão da rua. Sigo tendo sonhos estranhos com você e acordo querendo que você esteja cada dia melhor, bem e muito feliz. 

Sigo sem conseguir sentir por você o mesmo que sinto pelos outros. 

Acrobata da dor, Cruz e Souza

 

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! reteza os músculos, reteza
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.


Publicado no livro Broquéis (1893).

Produção de material didático

 Fui encarregada de criar 10 questões para o 6º ano. Quanto mais o tempo passa, menos sei como alcançar esses pequenos. Já nem sei se são assim tão pequenos, do que gostam, de que se alimentam, como sobrevivem? 

Rodo rodo rodo, tento puxar pela memória o meu tempo de quinta série e mal consigo me lembrar. Eu gostava de Chaves, de ver novelas, de canetas coloridas com cheirinho... Eu gostava de tanta coisa, mas não gostava das minhas provas de português. De repente porque a professora também não tinha uma boa memória e colocava no papel aquilo que ela gostava, não eu. 

CAVERNA

                      

Roseana Murray

Houve um dia,

no começo do mundo,

em que o homem

ainda não sabia

construir sua casa.

Então disputava

a caverna com os bichos

e era aí a sua morada.

Deixou para nós

seus sinais,

desenhos desse mundo

muito antigo.

Animais, caçadas, danças,

misteriosos rituais.

Que sinais

deixaremos nós

para o homem do futuro.

Meg

 A Meg me ensina que está tudo bem pedir carinho em todas as oportunidades em que a pessoa que você gosta estende a mão pra você. E que não podemos tocar nas asas dos outros, nem tentar impedir de voar. Ela também se arruma sempre, coloca as penas no lugar e passa o tempo que for até se sentir bem para não fazer absolutamente nada, nem sair da casinha. 

Meg gosta de ficar perto e olhando em silêncio. 

Via láctea - Olavo Bilac

 

A vontade de fazer coisa bonita em espanhol

 

Estava escrevendo uma breve brevíssima biografia de 8 linhas para um trabalho pós. O que falar sobre mim? Era livre, dois colegas anônimos já haviam escrito textos lindos e livres. Não estavam divididos em parágrafos, a linguagem não era presa, era tudo muito fluido. Colocaram inclusive músicas ao final e, por isso, me senti tranquila por querer colocar uma poesia e como material visual, uma foto com frase que gosto do TITANIC. 

Fui pesquisar uma imagem bonita, dessas "bem tumblr", com a frase em espanhol. Não encontrei. As fotos com essa tradução não estavam tão bonitas quanto as que havia em inglês. Pois eu fui, salvei uma imagem linda da Rose e fui até o Canva escolher o melhor design. 

A tecnologia da atualidade tem essa facilidade. Fiquei muito feliz por produzir algo tão bonito. A liberdade de criação me fez querer fazer o melhor. 

Valorar

Num dia queremos avidamente ouvir de alguém um "eu te amo"

No outro, temos 11 diferentes formas de ver isso

dentro de uma caixa.

Flor de Ren

Deixa-me

Perpassar os teus espinhos,

Curar as feridas.

Amar-te 

Com todas as ervas 

Que vivem no teu jardim.

Flor

única, doce e masculina, 

quero ser o vento que beija-te as pétalas.

E se as intenções estiverem 

ainda ocultas 

Eu peço baixinho:

Me deixa te amar, flor. 

Sabedoria

 Saí pelo bairro para comprar livros em sebos. O moço da banca aqui da esquina disse que não poderia me mostrar muita coisa hoje porque era arriscado. 

- Vai chover hoje, se não for por agora, deve ser até o final da tarde. 

Olhei pro céu. Não estava aquele azul-rio-de-janeiro, mas também não estava no nível das pessoas saírem de casacos na rua. Nem perdi meu tempo olhando a previsão pela internet porque depois de sucessivos casos de "máxima de 28" que bateu 39, eu não coloco mais fé. 

Segui minha procura sem sucesso aqui pela região, não tinha tempo para ir até a praça Tiradentes lá no Centro e acabei encerrando minha procura. Foi eu chegar em casa pra chuva começar a cair. Não é que o moço estava certo? Mães, avós, pessoas que fazem coisas inesperadas e agora donos de sebos serão minhas referências em previsão de chuva. 

021 966182204 (o telefone da moça caso algo aconteça comigo)

Comecei a receber ligações de uma estranha e qualquer pessoa, vivendo nesse mesmo mundo que eu, desligaria imediatamente. Pode ser um golpe, não é? Mais um. A moça disse que não precisava saber o meu nome e que não me pediria nenhuma informação pessoal, que só queria ler uma passagem da bíblia pra mim. 
Pensei nos filmes policiais e em como a polícia pedia que os personagens ficassem alguns minutos segurando a ligação para conseguir rastreá-la. Enquanto isso, a moça seguia falando sobre como existe um ser maravilhoso sobre nós. Meu irmão me olhava com cara de quem não estava entendendo nada, já muito intrigado porque eu estava em silêncio, pasmada "Quem é? Desliga", ele repetia. 
Mas era uma senhorinha, eu não podia desligar na cara dela, seria uma falta de educação. Senhorinhas aplicando golpes... Talvez seja até mais efetivo. Acontece que ela leu o fragmento que queria e perguntou se podia continuar ligando para compartilhar mais comigo. Só um trechinho. Se você não quiser tudo bem. 

Tudo bem. 

E a ligação terminou. Ainda não entendi porquê eu disse que sim, não entendi porquê sorte ela conseguiu meu telefone nem porque havia selecionado aquela passagem. Ainda espero que não seja um golpe, no fundo tenho esperança de que seja só uma senhorinha boa que fala sobre o que acredita de uma maneira doce. Ainda existe gente assim?

Jeremias 29:11

"Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro."

Até que ponto isso é importante?

Antes de reagir, pensar. 
É um bom lema =)

Travesseiros de papel

 Quando as coisas não vão bem, percebo um esforço sobrenatural da minha parte de reafirmar a identidade: cuidar do meu corpo, pintar as unhas de preto, vestir aquilo que melhor enfatiza o meu gosto, ouvir músicas, ler poesias e, principalmente, ler mangás. 

Viajo para dentro de mim mesma fazendo esse pequeno carinho, aconchegando quem estava de lado, deixando que as mágoas se deitem sobre travesseiros e papel ao doce embalo de melodias decoradas. Uma hora a dor, que era quase tão grande quanto uma pessoa, se transforma em tinta e pixels e ocupa não mais o meu coração, mas esses travesseiros de papel. 

Recolho todos, organizo para guardar. Serão necessários no futuro, assim como aqueles sobre os quais me deitei antes.

A pet

 Descobri que me pareço muito com um bichinho:

Ando de um lado para o outro dentro da minha própria gaiola que se estende, felizmente, um pouco além dos limites da minha casa porque preciso trabalhar para manter o ciclo;
Faço barulhos de insatisfação e peço atenção de muitas formas diferentes;
Faço festa quando vem me ver;
E estou aqui, sempre no mesmo lugar, quando lembram e estão disponíveis para dar carinho.

 

Muro de chapisco ou de trepadeira?

A solidão nos deixa anestesiados. 

Eu me virei do avesso e o lado impermeável está pra dentro.

Como é triste lançar baldes numa superfície sólida

Que não se pode nutrir

Os sentimentos batem e escorrem, frustrados, no chão

Empoçam, inertes.

Não voltam pro balde, não penetram o muro, não são enxugados

Aguentam apenas a lenta jornada de evaporação.

Nesse jogo você pode ser a fortaleza ou o idiota que leva o escorregão.

Remetente e destinatário de paradeiros desconhecidos

 Eu ainda sinto muito. Espero um dia não sentir muito e sentir diferente. Diferente de um jeito que não haja culpa ou questionamento. Mas eu ainda não entendo porque teve que ser assim. Que uma chuva de bençãos caia sobre a sua vida e você não tenha tempo de colher o ressentimento que sei que carrega. Que sua riqueza de espírito seja ainda maior do que toda material que você espera, e eu sei que é muita.

Esse é o tipo de história que eu não quero lembrar com dor, não a sua, não a minha, não todo esse tempo. 

Marília de Dirceu

Lira XV

(...)

Propunha-me dormir no teu regaço
as quentes horas da comprida sesta,
escrever teus louvores nos olmeiros,
toucar-te de papoilas na floresta.
Julgou o justo Céu que não convinha
que a tanto grau subisse a glória minha.

Cartas de amor (parte 3)

 Agora entendo o porquê do meu dúbio sentimento em relação a elas. É algo que beira o arrependimento, mas tem orgulho da coragem que teve para ser produzida. Veja bem, por um lado, a pureza habita o momento da descoberta daquele que recebe, em forma de enxurrada, milhares de palavras cuidadosamente organizadas para falar-lhe em mil devaneios e voltas o que em resumo escreve-se "eu te amo". Por outro lado, quando porventura a relação acaba, aquela vontade de tomar de volta todas as palavras, deixar que pertençam apenas àquela distante fração de tempo em que foram escritas. Porque, se a pessoa lê de novo, anos depois de tudo ter dado errado, é como se visse eu me despindo novamente diante dela. E eu não quero que tenham acesso a esse momento mágico, a essa entrega total do meu corpo literário se não estão mais comigo. Mas... O que eu não entendo é a quem pertence essas palavras da carta de amor: a mim que senti, a pessoa que foi alvo, o papel que veiculou, ao espaço tempo que presenciou?  

 

Cartas de amor (parte 2)

 Estou tão envolvida com Antônio Candido que venho pensando em começar minhas cartas de amor com fundamentação teórica e citações diretas de espaçamento recuado. 

Meu amor, 

"As palavras organizadas são mais do que a presença de um código: elas sempre comunicam alguma coisa, que nos toca porque obedecem certa ordem."(CANDIDO, p. 180) Por essa razão, divido esta carta em: divagações iniciais, verdades incontestáveis sobre o amor, características que para mim são singulares, mas que todo apaixonado vê no ser amado e, por fim, juras ardentes e eternas.

Que belo ser fotografado, mas pelas retinas desses olhos lindos

 A memória é o melhor presente, é por isso que registramos, seja em texto, foto ou vídeo. Fecho os olhos e os abro; que bom que não se passaram anos numa piscada. 

Vou aproveitar para escrever sobre isso.

Carta pra você

 Me impressiona a sua força. E a sua resistência àquilo que acredita. Tenho orgulho do seu trabalho, do seu esforço e até da culpa que sente quando está se distraindo, mas pensando nas obrigações. A sua sensibilidade para manter as pessoas confortáveis e não incomodar, não causar mal estar ou impertinência. Admiro a sua fé múltipla e a maneira silenciosa de viver as crenças. E amo, amo de verdade, o seu amor sincero pelas pessoas, pelas coisas, pelos lugares e pelos animais.  

Estou junto de você. 

Obrigada pela companhia, te espero do outro lado do espelho.

É estranho te olhar e não te conhecer. Sentir falta de algo que não tem nome, não divulgar, não declarar, não parabenizar com veemência. Não tirar fotos, não buscar conselhos, consolo, companhia. É estranho não ser familiar, não querer dividir, não querer te ouvir.

É das primeiras vezes que escrevo um texto calmo e tão triste sobre a nossa relação. Eu geralmente sinto raiva, mas é pior agora porque entendi que não é pra você que eu corro. 

Talvez seja uma ideia equivocada, igual a muitas outras coisas que dizem por aí, a de que são todas iguais. 

Irrelevante

 Pode ser que a vida tenha me reservado isto que estou vivendo agora e eu não entenda o motivo. Pode ser que toda essa mistura de confusão e claridade um dia pareça simplesmente lógico. Pode ser até que essa aceitação misteriosa de tudo aquilo que não tenho controle sirva como consolo no futuro. Pode ser que nada disso faça sentido. Pode ser? Pode. Aquilo que você imagina, pode. Aquilo que você suspeita, pode. Aquilo que você espera, pode.