domingo, 14 de março de 2021

Cartas de amor (parte 3)

 Agora entendo o porquê do meu dúbio sentimento em relação a elas. É algo que beira o arrependimento, mas tem orgulho da coragem que teve para ser produzida. Veja bem, por um lado, a pureza habita o momento da descoberta daquele que recebe, em forma de enxurrada, milhares de palavras cuidadosamente organizadas para falar-lhe em mil devaneios e voltas o que em resumo escreve-se "eu te amo". Por outro lado, quando porventura a relação acaba, aquela vontade de tomar de volta todas as palavras, deixar que pertençam apenas àquela distante fração de tempo em que foram escritas. Porque, se a pessoa lê de novo, anos depois de tudo ter dado errado, é como se visse eu me despindo novamente diante dela. E eu não quero que tenham acesso a esse momento mágico, a essa entrega total do meu corpo literário se não estão mais comigo. Mas... O que eu não entendo é a quem pertence essas palavras da carta de amor: a mim que senti, a pessoa que foi alvo, o papel que veiculou, ao espaço tempo que presenciou?  

 

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