terça-feira, 16 de abril de 2024

Cores do vento

 Texto recuperado do blog antigo, referência do texto que vem depois desse. Escrito no primeiro semestre de 2015.

Meu braço está para fora da janela com os dedos abertos sentindo o vento escorregar entre eles. A minha cabeça está encostada no apoio do banco, o corpo relaxado e os olhos perdidos nos borrões lá fora. Já não sei se estamos subindo ou descendo a serra, mas sinto as curvas. Do motorista não sei absolutamente nada, não sei quem é, nunca o vi, mas ele me leva por essa estrada há anos. Não me pergunta para onde quero ir, nem pede minha opinião sobre os caminhos, não me aconselha a colocar o cinto de segurança, não fala, apenas dirige.

Parei de perguntar para as pessoas que entravam no carro se nos encontramos porque o motorista queria, porque fez de propósito a parada onde nos encontramos ou se foi só casualidade. Não faz sentido insistir, as pessoas também não sabem a resposta. Muitas pessoas entraram no carro recentemente, mas elas sempre descem em algum lugar e prometem me encontrar em novas paradas. Não me incomodo, já viajei no bando de trás de muita gente, bem, não é assim tão confortável.

Não preciso esperar muito para que algumas pessoas voltem a pedir caronas nem adivinhar que outras nunca voltarão, mas não tem problema, estão em seus próprios carros, com seus próprios motoristas mudos. Não consigo adivinhar onde pararemos nem quando, as pessoas que me farão companhia lá do banco de trás ou se meu motorista resolverá me deixará descer por mais tempo na próxima parada.

Ainda que ele não fale nada, está me incomodando. Não quero ser levada. Quero caminhar sozinha.

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