terça-feira, 30 de abril de 2024

Plástico, Vidro, Orgânico, Humano

O descarte das relações humanas foi normalizado. O que provocou isso? Foi o capitalismo? Estamos tão acostumados a jogar fora que...? Em que momento nós deixamos de ser relevantes para as pessoas? Não que eu seja especial em alguma coisa, eu sou até uma pessoa bem mediana. Só queria entender essa facilidade de substituir um universo inteiro. 

"As pessoas não são insubstituíveis", dizem por aí. Como se essa fosse a verdade do século, que você é obrigado a engolir, goela abaixo. 

A fragilidade da existência, a temporalidade ridícula da existência e agora a insignificância da existência. Que horrível isso.  

segunda-feira, 22 de abril de 2024

A noiva deflorada

Disseram que o branco simboliza a pureza e que a pureza é sinônimo de virgindade. Minha carne não é virgem, mas sinto que meu coração é puro. Como que é isso, então? Ninguém tem mais conhecimento do meu coração do que eu mesma e eu digo que usarei branco, com o coração em paz, florescendo cores, tingindo tudo de flores perfumadas e pérolas que só outro coração puro, o meu par, vai conseguir ver. 


Xingamentos

Eu queria entender pq ser chamado de "criança" e de "velho" é tão pejorativo. Se são as melhores fases da vida, se é nessas fases que se tem mais liberdade para ser. Eu quero saber: cadê a magia em ser adulto? 

A bruxa e o fada

 A história de amor entre uma bruxa que vivia isolada nas montanhas e um fada que não tinha medo dela.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Cores do vento

 Texto recuperado do blog antigo, referência do texto que vem depois desse. Escrito no primeiro semestre de 2015.

Meu braço está para fora da janela com os dedos abertos sentindo o vento escorregar entre eles. A minha cabeça está encostada no apoio do banco, o corpo relaxado e os olhos perdidos nos borrões lá fora. Já não sei se estamos subindo ou descendo a serra, mas sinto as curvas. Do motorista não sei absolutamente nada, não sei quem é, nunca o vi, mas ele me leva por essa estrada há anos. Não me pergunta para onde quero ir, nem pede minha opinião sobre os caminhos, não me aconselha a colocar o cinto de segurança, não fala, apenas dirige.

Parei de perguntar para as pessoas que entravam no carro se nos encontramos porque o motorista queria, porque fez de propósito a parada onde nos encontramos ou se foi só casualidade. Não faz sentido insistir, as pessoas também não sabem a resposta. Muitas pessoas entraram no carro recentemente, mas elas sempre descem em algum lugar e prometem me encontrar em novas paradas. Não me incomodo, já viajei no bando de trás de muita gente, bem, não é assim tão confortável.

Não preciso esperar muito para que algumas pessoas voltem a pedir caronas nem adivinhar que outras nunca voltarão, mas não tem problema, estão em seus próprios carros, com seus próprios motoristas mudos. Não consigo adivinhar onde pararemos nem quando, as pessoas que me farão companhia lá do banco de trás ou se meu motorista resolverá me deixará descer por mais tempo na próxima parada.

Ainda que ele não fale nada, está me incomodando. Não quero ser levada. Quero caminhar sozinha.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

De mãos dadas com o destino

Lá vai o motorista de novo, arrancando tão rápido com esse bendito carro que as minhas lágrimas vão escorrendo, ficando pelo vento, marcando o caminho seco de corretivo e blush do meu rosto. 

Saudade da minha avó deslumbrada com a escada do shopping que tem fitas de led embutidas no corrimão. Saudade de sentir o cheiro do leite com canela fervendo da canjica em junho. Saudade do meu primo Lenan ainda criança, pintando desenhos, brincando, lendo a revista recreio, conversando sobre qual brinquedo do Mc Donalds a gente ia combinar de pegar diferente da próxima vez que fôssemos passear. Saudade do meu passado tão tranquilo, tão despreocupado. Saudade do futuro que eu sonhei pra mim e o destino se recusa a me dar. Ah, lágrimas, parem de cair. 

Saudades das flores de Holambra

Escrever cartas foi a maneira que encontrei de traduzir o que na minha cabeça é um redemoinho de ideias.

 Na minha mente há um moinho, que esmiuça sentimentos e do pó que sai dele formam-se palavras em papéis. Há uma louca que às vezes tenta batalhar contra o moinho e ela não tem um cavalo, mas um passarinho que voa, desvairado, ao seu redor, pousando quando quer em seu ombro. 




terça-feira, 9 de abril de 2024

Tempos modernos reverso

 Se o Chaplin chamou atenção para o empregado alienado, que apertava parafuso sem conhecer o produto final, hoje, quanto mais participo das reuniões de diferentes núcleos do universo que é o meu trabalho, mais sinto vontade de me esconder, fechar a porta do meu quarto e só fazer a minha parte. 

Quanto mais sei, mais tomo consciência do valor de cada um daqueles funcionários, dos pequenos, que como eu, carregam folhas diariamente para o grande monte. Se me vejo como uma formiga, faz mais sentido pra mim dar as costas para os parafusos e máquinas e voltar pra natureza que pegar o elevador e ir mais pra dentro das luzes artificiais, caminhando sozinha no chão frio. 


Eu sou essa pessoa a quem o vento chama

 Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,  

a que não se recusa a esse final convite,  

em máquinas de adeus, sem tentação de volta.  

 

Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza.  

Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:  

já de horizontes libertada, mas sozinha.  

 

Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,  

dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho?  

Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.  

 

Pelos mundos do vento, em meus cílios guardadas 

vão as medidas que separam os abraços.  

Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina: 

 

“Agora és livre, se ainda recordas”.  

 

MEIRELES, C. [Eu sou essa pessoa a quem o vento chama]. In.: Solombra. São Paulo: Global Editora, 2013

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Casimiro de Abreu

 Amor e medo 

 II  Ai! se eu te visse no calor da sesta,  A mão tremente no calor das tuas,  Amarrotado o teu vestido branco,  Soltos cabelos nas espáduas nuas!...  Ai! se eu te visse, Madalena pura,  Sobre o veludo reclinada a meio,  Olhos cerrados na volúpia doce,  Os braços frouxos, palpitante o seio!...  Ai! se eu te visse em languidez sublime,  Na face as rosas virginais do pejo,  Trêmula a fala a protestar baixinho...  Vermelha a boca, soluçando um beijo!...  Diz: que seria da pureza d’anjo, Das vestes alvas, do cantor das asas?  Tu te queimaras, a pisar descalça,  Criança louca, sobre um chão de brasas!  No fogo vivo eu me abrasara inteiro!  Ébrio e sedento na fugaz vertigem.  Vil, machucara com meu dedo impuro  As pobres flores da grinalda virgem!  Vampiro infame, eu sorveria em beijos  Toda a inocência que teu lábio encerra,  E tu serias no lascivo abraço  Anjo enlodado nos pauis da terra.  Depois... desperta no febril delírio,  Olhos pisados como um vão lamento,  Tu perguntaras: qu’é da minha c’roa?...  Eu te diria: desfolhou - a o vento!...                      ________  Oh! não me chames coração de gelo!  Bem vês: traí-me no fatal segredo.  Se de ti fujo é que te adoro e muito,  És bela eu moço; tens amor, eu medo!... 

ABREU, C. Amor e Medo In: Poesias Completas de Casimiro de Abreu. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994.,

Nana sendo Nana

É você quem escolhe ficar preso pelo amor. 

Não é o outro que te prende, não é o amor que te prende. É você quem escolhe se prender ao outro.