quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Boa noite

 Amor é uma coisa estranha, nos deixa sensíveis à gentileza dos outros e nos torna um pouco mais gentis também. Mesmo sendo traídos ou feridos não devemos nos esquecer de amar os outros. Se eu sair e for gentil com um monte de gente e sentir o carinho de um monte de pessoas tenho certeza que as minhas feridas também vão sumir um dia. 

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 Índigo, panqueca e inverno.
Doninha do ártico.




terça-feira, 26 de setembro de 2023

Pescador de homens

 Meu avô,

Obrigada por tanto. O senhor partiu num dia de sol quente, sem nuvens. Quente, forte, intenso, como o seu amor por Deus e pela sua família. Não poderia ser diferente. Queria conseguir escrever o céu de domingo com as palavras, trazê-lo para o texto para fazer dele um instrumento capaz de despertar o amor íntegro, sincero e digno como era o que você sentia por nós. 

Você era reto, vô. Reto nas palavras, nos seus objetivos, no que você pregava e acreditava. Não tinha meias palavras, não tinha dúvida, não tinha contorno. Você ia me buscar na escola para ir pra sua casa nos finais de semana, nós íamos conversando pelo caminho, eu já não me lembro mais sobre o que, mas o senhor falava pra dedéu. Sempre parávamos num sacolão pra comprar uma imensa variedade de frutas pra levar pra vovó, mesmo que pra você só importasse mesmo a banana e o caqui (quando era época). 

Você me levou pro hospital quando achavam que eu tinha hanseníase. E ficou lá comigo indo por dias e dias, até que descobriram que era só uma espécie de "pano" na minha pele. Eu lembro quando você ganhou um celular, aprendeu a usar e avisou pra minha avó que estava na frente da "casa de baal" comigo, mas que eu não tinha nada. 

Eu também me lembro que você acordava muito cedo, saía pra trabalhar e voltava pra almoçar em casa, dormir um pouquinho depois do almoço. Meu primo e eu tínhamos que fazer completo silêncio e brincar quietinhos pra você poder descansar. E nós entendíamos isso, mesmo sendo apenas duas crianças. Sabíamos que tínhamos que respeitar o sono do vovô e que vovó prepararia aletria ou mingau pra você comer no lanche da tarde.

Você tinha uma coleção inteira de doces em cima do armário, lá em cima. Eu tenho uma coleção inteira de lembranças que não cabem, graças a Deus, só nesse texto. O senhor foi enterrado ontem e entre domingo e hoje, terça-feira, eu já revivi uma vida inteira e envelheci anos com essa experiência. Seu enterro foi muito bonito, se é que isso pode ser dito de um enterro. Quem falou para e sobre você o conhecia e foi isso que mais me impactou, sabe? Falaram sobre sua postura no trabalho, na vida e a Viviane, sua cuidadora, falou sobre você já durante o período do Alzheimer, quando você já falava pouco, mas mesmo assim, chamou pelo meu tio Lúcio. Isso me comoveu muito. Você sabia quem ele era? Teve um momentinho de lucidez e quis chamar pelo seu filho? 

Ah, vô. Que bom que você não sente mais a dor da carne, que bom que você não está mais sendo revirado e invadido. Descanse com os anjos e abrace o meu pai assim que puder aí no céu. 

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A camisolinha branca

 Comprei uma camisola de algodão branca com renda e bordados de pequenas flores cor de rosa e azuis, com folhinhas verdes ainda menores. Ela não é decotada ou curta, mas tem uma transparência que mostra um pouco da minha silhueta. 

Venho guardando essa camisola na gaveta. Ela estava bem enroladinha, lá atrás, atrás de tudo, escondida de mim mesma. Coitada da camisola, tão cheia de sonhos. Eu poderia usá-la em um momento especial, num dia especial. Quando aquilo acontecesse. 

Aconteceu de nunca chegar o momento ideal de usar a camisola e ela começar a amarelar. Tirei da gaveta, estou usando hoje, pra ninguém. Pra me lembrar de que os sonhos são meus, a camisola é minha e os momentos especiais, talvez também possam ser só meus. 

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Florescer

 

Eu sou flor? Fruta? 
Semente não sou mais.
As folhas já crescem.
Preciso decidir? 
Pé de laranja tem flor e fruto.

É a academia, é a primavera ou é o meu coração?

 Todo ano eu vivo essa experiência de sentir o cheiro da mudança da estação. Eu amo o inverno, honestamente o amo. Mas como tudo aquilo que gosto, sinto uma fagulha quando o acaso bem entende que mereço e o verdadeiro inverno só da as graças por alguns dias, mesmo que a promessa seja de 4 meses. Quando ele vai embora, tenho esses pequenos lapsos de cheiros e sensações. O calor agradável da primavera, o cheiro de fim de ano, porque pra mim setembro dá uma guinada e quando vejo já estou embrulhando presentes, arrumando casa e procurando minhas roupas brancas. 

Muito bem, reconheço o bem estar do final do ano, a preocupação de dar conta de tudo que preciso fazer,  agora com mais meu tão amado e esperado mestrado. 

Reconheço o ânimo da academia, com tudo aquilo de hormônio circulando dentro de mim por conta dos exercícios e a vontade de me tornar uma pessoa mais atraente fisicamente usando um bikini ou maiô (vem verão). 

Ou é mais uma vez o meu coração dando os pulinhos dele? É pra me sentir culpada por esse sentimento? Eu posso ficar viajando na maionese no meio do meu trabalho porque estou bobinha? E vindo no blog despejar meus risinhos e culpa? 

É a academia, a primavera, o meu coração? Ou tudo junto? 

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

La ventolera

Silba el viento dentro de mí. Estoy desnudo. Dueño de nada, dueño de nadie, ni siquiera dueño de mis certezas, soy mi cara en el viento, a contraviento, y soy el viento que me golpea la cara.


Eduardo Galeano, El libro de los abrazos

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Mais uma escrita inconformada sobre o tempo

Algum dia o tempo será suficiente? 

Estou tão cansada. Ele está sempre faltando.

Estou tão preocupada. Ele está sempre faltando.

Estou tão... Ele passou. 

Eu nem estou mais e ele, impetuoso, me atravessa, como se eu fosse nada. Porque não sou, porque as pessoas não são mais. 

Meu útero dá sinais todo mês. Sinais de que o tempo... Adivinha? Passa.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Metade do meu coração é meu, a outra metade das pessoas que amo

 Nos últimos dias me dei conta de que estou sempre comprando presentes para as pessoas. Sempre que tenho uma oportunidade de ajudar, contribuir, fazer uma graça, deixar a pessoa feliz, vou e compro alguma coisa que verdadeiramente esteja ligada a ela. É muito bom quando sei que vai servir. Isso também acontece com artesanato. Tenho alguns (muitos) projetos de artesanato anotados, o estojo com a linha da mãe de Juliane, a capa da cadeira gamer da Camile, a bolsa da Nina, o casaco da Leili de tricô (que eu não faço ideia de como faz, mas que quero fazer um para mim também, como o modelo do Ron e do Harry que a Molly faz para eles de natal, tão lindo, tão terno), o casaco do Howl para o Porto Alegre, a toalha bordada para a casa nova do Gabriel, talvez toalhas combinando para minha mãe e Lester numa linha chique. 

Queria conseguir equilibrar melhor os presentes e a dedicação sem me sentir egoísta. Fazer para mim também é um ato de carinho, não é? Está tudo bem querer fazer algo pra mim. Imagino que secretamente posso fazer meu próprio enxoval. Que bom que posso escrever isso aqui...

 <3

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Diga, parte 2

 Tira a maquiagem pra que eu possa ver
Aquilo que você se esforça pra esconder
Agora somos só nós dois
Já podes parar de fingir

Mas cala essa boca e me diz com o olhar
Quem era você até me encontrar?
Se agora és diferente
O que eu fiz que te fez mudar?

Eu lembro dos lábios
Tremendo ao dizer
Eu não vivo sem você

Então diga
Que não vai sair da minha vida
Diga que não passa de mentira
Quando dizem que o amor morreu

Tira essa roupa pra que eu possa ver
Que não há uma arma tentando se esconder
O mal vive num lar perfeito
E sem infiltração

Tira o cabelo da cara e me diz
Se por um segundo quiseste me ver feliz
Ou se és o meu destino
Tentando me dar outra lição

Eu lembro de cerrar os punhos pra dizer
Eu não amo mais você

E diga
Que não volta mais pra minha vida
E que a nossa estrada é bipartida
Esqueça o dia em que me conheceu

Então diga
Que nem todo dinheiro dessa vida
Não vai comprar de volta a acolhida
No peito de quem já foi todo seu
A casa é minha, mas pode ficar

Eu volto amanhã e não quero mais te enxergar
Faça as suas malas e nunca mais volte aqui
E eu juro pela vida da mãe e do pai
Ciente do peso da expressão nunca mais
Volte a oferecer teu corpo a quem preferir

Viver ao lado de quem não tem nada pra dizer
Confesse pra mim de uma vez
Mas diga
Que nunca foi feliz nessa tua vida
Teu texto, teu sorriso de mentira
Pode enganar a todos, não a mim

Então diga
Que essa mão que acena na partida
Por tantos idiotas pretendida
É a mesma que decreta o nosso fim

Assisto ao teus passos como a um balé
Quem vai usurpar agora que ninguém te quer?
A verdade demora mas chega sempre sem avisar
E o grito contido no teu travesseiro
Ecoa nos lares do mundo inteiro
Não tira esse rímel
Pois hoje quero vê-lo borrar