quinta-feira, 27 de abril de 2023

O doutorado da UERJ

 Estive hoje numa aula de doutorado. Havia poucas pessoas, um grupo bastante seleto de estudantes. Acompanhei boa parte da aula, mesmo não tendo lido o texto, mesmo não tendo feito um mestrado, mesmo não tendo nenhum tipo de projeto formal a respeito da literatura brasileira. 

O tema da aula era bastante interessante, falamos sobre diários. Muitos pesquisadores daquela sala pesquisavam diários para colocar em seu trabalho o que eles entendem por autobiografia. Para variar, muitos conceitos difíceis foram debatidos, como: o que é uma escrita genuína? Se um escritor escreve um diário sabendo que um dia será lido, aquele texto está carregado dos olhares prévios de seus leitores? 

No meio de tantos problemas e questões, viajei sobre minha própria experiência e bateu à porta o medo do narcisismo. Escrevo diários por toda minha vida, será que posso usar minha experiência nesta aula? A verdade é que escrevemos sobre o que nos incomoda e eu estou há três parágrafos narrando sobre a parte boa do meu dia, esperando o momento em que poderei expor aquilo que me magoa nesse momento. 

O dia foi ótimo, a companhia também, mas... É mais urgente falar sobre o que dói? 


terça-feira, 25 de abril de 2023

Um por mês

 Eu adoro essas coisas. Adoro fazer planos periódicos, adoro tudo aquilo que vai virar uma coleção de memórias no final do ano. Quando menina, gostava de juntar moedas num cofrinho "para abrir no final do ano e comprar um presente legal com as economias". Sempre fui o tipo de pessoa de fazer "listas de objetivos para o próximo ano" e dar uma olhadinha nela para ver como tenho caminhado de meses em meses. Eu também inventei de fazer uma capsula do tempo com uma carta para mim mesma e abri-la de 10 em 10 anos, começando a primeira abertura aos 27. 

Ano passado inventei de tomar um café gostoso de cafeteria todo mês. Qual será a proposta de 2023 além dos objetivos da lista de ano novo? Já estamos quase em maio e o tempo passou voando. Mas ainda não é tarde para estabelecer uma tradição de 2023... Pensei em tentar ir a lugares legais e diferentes uma vez por mês para ler ou fazer crochê. 

Gostei dessa proposta, acho que vai ser essa mesmo. E o primeiro lugar vai ser o palácio do Catete. Como foi bom no ano passado! Houve um encontro piquenique de crocheteiras e eu ganhei dois novelos de linha, fiquei toda boba. Um desses novelos virou dois estojos, um pra mim e outro pra minha mãe. O outro novelo ficou de presente para Bruna que quis aprender a fazer crochê (e se desenvolveu muito bem) para o aniversário de 5 anos da Nininha. 


quarta-feira, 19 de abril de 2023

Diários de motocicleta

 Eu tinha 12 ou 13 anos quando trocaram meu professor de português na escolinha para a qual me mudei. A mudança toda foi bastante marcante, sair de um município não tão pequeno assim, mas com ideias tão diferentes da "cidade grande" fez uma diferença brutal na minha vida. 

Bom, a sorte foi que eu fui parar num colégio intimista nesse bairro onde vivo, em que as pessoas agem como se tivessem milhões na conta, mas na verdade não tem nem um. 

O que aconteceu foi que em 2009 substituíram a professora Déborah (que era uma mãe, um amor de pessoa) por um professor truculento, grande, barbudo e barrigudinho. O homem chegou para ensinar português - e ensinou de fato -, mas veio com propostas bem mais profundas, que eu não alcançava, apenas absorvia. 

Num bimestre vimos "Na natureza selvagem", no outro "Diários de motocicleta" e ao fim do ano já estávamos todos a par da viagem que o professor fez pra Cuba, coletar informações e tudo que o governo oferecia para o povo. Esse mesmo professor escreveu uma carta de próprio punho para minha mãe, solicitando que ela comprasse dois livros pra mim. A biografia do Che e o próprio "Na natureza selvagem". 

Fui para o ensino médio levando todas aquelas ideias comigo e, óbvio, me frustrei, porque não é em todo lugar que você encontra bons professores de português. Que além de oração subordinada substantiva da puta que o pariu, nos ensina também a pensar. 

Hoje montei uma aula de conversação sobre o filme Diários de Motocicleta. Obrigada, Carluxo, por abrir as portas pra mim. 

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Para meus queridos kens

 Eu li esse último texto da Martha Medeiros e pensei em quens? Bom, eu sei. E sei que não dói mais também, pela graça de Deus, não dói. Eu fiquei tanto tempo acostumada a amar vocês que não sabia desaprender, também não sabia que alterar esse sentimento não fazia com que ele desaparecesse da face da terra. Ele existiu, foi bom e intenso, hoje ele não existe mais. O que poderia perdurar por tanto tempo sem alimento? Só uma lembrança. Amar a lembrança não é amar vocês, infelizmente. 

Mas tudo bem, não é?

Martha Medeiros (de novo)

 Existem duas dores de amor:

A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel.

A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.

A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também...

Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir, lembrança de uma época bonita que foi vivida... Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, lógicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente, e que só com muito esforço é possível alforriar.

É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a "dor-de-cotovelo" propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: "Eu amo, logo existo".

Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente...

E só então a gente poderá amar, de novo.

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Eu tenho um neko-chan

Dizem que o gatinho japonês que balança a patinha atrai dinheiro. O meu fica em cima do abajur, na mesa de trabalho. Ele balança a patinha de levinho de manhã, a todo vapor a tarde e a noite só quando eu puxo e o obrigo a balançar. Mesmo assim, ele vai parando lentamente, porque é movido a energia solar e não a força bruta.

Meu neko-chan sabe quando é hora de parar, eu não. 

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Ai, pai

Meu pai,

Nós infelizmente não tivemos muitas conversas de pai e filha, mas eu me lembro de uma na varanda em que estávamos só nós dois e você me perguntava o que eu queria fazer da vida. Eu não me lembro a idade que tinha quando essa conversa aconteceu, provavelmente tinha uns 14 anos, das últimas vezes que te vi. Ali eu te respondi que queria ser professora e você ficou visivelmente desapontado. 

Você esperava que eu fosse me tornar uma pediatra ou veterinária. Eu tenho certeza de que já escrevi um texto sobre isso, sobre essa conversa e sinto muito por ser repetitiva. Não é um problema voltar muitas vezes na mesma lembrança, é? 

Eu queria te dizer que, de certa forma, tento domar a nós mesmos em nosso estado de animalidade, quando estamos sem a literatura. Tenho certeza de que você não compraria essa ideia, mas não custa tentar, não é? E esse argumento como foi? Será que consigo reescrever esse texto muitas vezes, com essa mesma lembrança e diferentes argumentos? 

Queria que você soubesse que eu gostaria de saber mais sobre você, que eu queria te pedir conselhos e ter uma coleção de memórias nossas um pouco mais ampla. Sinto sua falta, espero que esteja bem. 

sexta-feira, 7 de abril de 2023

A materialização do amor

 A gente fala de amor mesmo antes de saber falar. O bebê da Amanda fala de amor com pequenos gestos, a Amanda e a Giulia falam com todas as letras do amor imenso, incondicional, imaterial, incomparável, pelos seus filhos. A Leili fala sobre a felicidade que sente na Páscoa por saber que alguém, mesmo que não mereçamos, morreu por nós. Ela falou que isso é a materialização do amor e que ela continua vendo esse amor por nós se materializar quando Jesus nos permite estar em contato com pessoas tão incríveis,  continuamos tendo provas de que ele nos ama. Obrigada por me permitir ver, feliz páscoa!