quarta-feira, 19 de abril de 2023

Diários de motocicleta

 Eu tinha 12 ou 13 anos quando trocaram meu professor de português na escolinha para a qual me mudei. A mudança toda foi bastante marcante, sair de um município não tão pequeno assim, mas com ideias tão diferentes da "cidade grande" fez uma diferença brutal na minha vida. 

Bom, a sorte foi que eu fui parar num colégio intimista nesse bairro onde vivo, em que as pessoas agem como se tivessem milhões na conta, mas na verdade não tem nem um. 

O que aconteceu foi que em 2009 substituíram a professora Déborah (que era uma mãe, um amor de pessoa) por um professor truculento, grande, barbudo e barrigudinho. O homem chegou para ensinar português - e ensinou de fato -, mas veio com propostas bem mais profundas, que eu não alcançava, apenas absorvia. 

Num bimestre vimos "Na natureza selvagem", no outro "Diários de motocicleta" e ao fim do ano já estávamos todos a par da viagem que o professor fez pra Cuba, coletar informações e tudo que o governo oferecia para o povo. Esse mesmo professor escreveu uma carta de próprio punho para minha mãe, solicitando que ela comprasse dois livros pra mim. A biografia do Che e o próprio "Na natureza selvagem". 

Fui para o ensino médio levando todas aquelas ideias comigo e, óbvio, me frustrei, porque não é em todo lugar que você encontra bons professores de português. Que além de oração subordinada substantiva da puta que o pariu, nos ensina também a pensar. 

Hoje montei uma aula de conversação sobre o filme Diários de Motocicleta. Obrigada, Carluxo, por abrir as portas pra mim. 

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