quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Sonhos que são como filmes

É noite, há uma casa num lugar afastado, com natureza. Uma mulher descobre algo dentro da casa, minutos antes de fechá-la para ir embora. Seu marido é o culpado e ela decide matá-lo imediatamente. Toma uma arma com dois canos na mão, arma o gatilho e entra no carro. Ele está no carona, já com cara de quem não queria estar esperando e se assusta. Antes que diga qualquer coisa, a mulher atira na altura dos ombros dele, mas ele põe uma mão na frente, o tiro pega de raspão. 

Uma terrível discussão começa, eles saem do carro e continuam machucando um ao outro. A mulher corre e continua atirando, mas algo a atinge. Ambos se perdem de vista por um momento, há muita vegetação e árvores ali, à medida que se afastam das luzes da varanda da casa tudo fica escuro.

O homem aparece, a golpeia e ela devolve a dor pousando a arma na altura do estômago dele. Atira, ele cai, rolando para perto da plantação de milho. A visão da mulher vai ficando turva, ela sente que também vai morrer. Que merda, está perdendo os sentidos. Se aproxima do calçamento da nova garagem em construção e deita no chão. Então é assim que morre, mas ela nem sabe o motivo. 

Quando acorda sua mente grita, seus familiares estão ao redor, o lugar parece a casa de seus avós. Não fale nada, ninguém pode saber nada. Então percebe que usa camisolas brancas e tem uma faixa na barriga, machucados nos braços e a cabeça dói muito. Não fale nada, ninguém pode saber nada. Sua família fala sem parar. Onde está o marido? Ele também sobreviveu?

Olham com muita pena pra ela. Deve estar viúva, que bom. Ela pisca e tudo que era branco se transforma em palha. Teto de palha, chão de palha, roupas de palha. Desmaia, acorda depois de mais três dias.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Dramática como só uma segunda-feira consegue ser

Sonho

De suspirar em vão já fatigado,

Dando trégua a meus males eu dormia;

Eis que junto de mim sonhei que via

Da Morte o gesto lívido, e mirrado:

 

Curva fouce no punho descarnado

Sustentava a cruel, e me dizia:

“Eu venho terminar tua agonia;

Morre, não peneis mais, oh desgraçado!”

 

Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,

Que armado de cruentos passadores

Aparece, e lhe diz com voz irada:

 

“Emprega noutro objeto os teus rigores;

Que esta vida infeliz está guardada

Para vítima só de meus furores.”

 

Manuel Maria Barbosa du Bocage. Soneto e outros poemas, 1994.

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Em defesa da improdução

 A obsessão por melhorar, por superar, por produzir, já fez com que até mesmo as pessoas, nós, inventores desse sistema de merda, fôssemos substituídos por máquinas e inteligências artificiais. 

A necessidade das flores, da leitura de um bom livro, de não fazer nada, de olhar o céu, de sermos suficientes para nós mesmos, recolhidas todas as pequenas insignificâncias.  

Obrigada, Julia, como sempre.

A poeta média 6

Não sei fazer rima, não sei transcender no belo do verso, saio escrevendo a esmo aquilo que vem a cabeça, escrevo enquanto o rosto ainda está quente e os dedos se revezam entre o teclado e o backspace.

Falo de mim, falo de ti e de mim novamente. Nada disso interessa para o mundo inteiro, mas é muito pro meu pequeno universo. Qual é o valor do texto escrito por um coração ordinário? Quanto se sabe do preço de um sentimento?