terça-feira, 21 de maio de 2024

Do fax ao Teams

Quando eu era muito pequena, fui ao trabalho com a minha mãe. Mas eu era muito pequena mesmo, era do tempo que eu corria dando pequenos pulinhos e meu cabelo crescia pra cima. Era um tempo em que as repartições dos escritórios não iam até o teto e o barulho dos fax chegando não parava. Minha mãe tinha a própria sala, com uma mesa grande, telefone, porta treco e um enormíssimo computador. Eu queria mexer em tudo, correr por todos os lados, ainda estávamos nos anos 90 e eu tinha, no máximo, 4 anos de idade. Tenho a sensação de que temos uma foto minha desse dia no trabalho da minha mãe, comigo em cima da mesa, não me lembro se fingindo que falava ao telefone, provavelmente isso mesmo. 

Essa semana me deu uma vontade incontrolável de comer uma fatia de torta, daquelas bem lindas, bem tortudas mesmo. Coloquei a minha mãe na frente do notebook do trabalho, o headset na cabeça e disse: "Não clica em nada, vai assistindo a palestra que ninguém vai saber que não sou eu. Quando eu voltar, você me conta o que o homem disse". "Mas e se alguém falar com você? O que eu faço? O que eu tenho que apertar?". "Mãe, não precisa apertar nada. E pode ignorar quem falar, porque é como se eu estivesse na reunião, entendeu?". "Ta bem, vai lá. Aproveita e traz um biscoito daqueles de amendoim também, ta?". "¬¬"

Atravessei a rua para comprar os dois pedaços de torta pra gente comer. Pelo celular, eu tenho o aplicativo do chat do trabalho e vi que tinha gente falando comigo. Comprei a torta, desisti do biscoito de amendoim e voltei correndo pra casa. Não levei 10 minutos na rua. Estava ela com uma caneta cor de rosa, anotando um monte de coisa num papel aleatório da minha mesa: "Esse homem da palestra é muito bom, até anotei umas coisas pra você aqui, oh (...)" Mesa bagunçada, quarto com bichinho de pelúcia, headset rosa de guerra e pijama. Só faltou a foto dela num "dia" no meu trabalho.

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