quinta-feira, 9 de julho de 2020

O casal como unidade bipartida

Você precisa viver coisas a parte de mim.
Eu preciso viver coisas a parte de você.
Para que juntos possamos continuar sendo
você
eu
E descobrirmos comunhão em
você e eu.

Para as grávidas

Eu sou um forno
E estou assando um biscoitinho
Será que é um biscoito salgado
Ou um biscoito docinho?

Escrevi esse poema há dois anos e penso nele como algo muito delicado, fofo. A melhor parte é que a classificação dos sexos é tão subjetiva que fica para leitor (ou ouvinte) definir o que representa o salgado e o doce, ou simplesmente não definir nada.
Imagino que o sentimento das mães seja algo próximo a isso. Há uma dualidade, mas você não sabe e nem se importa com o que é, porque tudo é bom.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Palavra preferida

Nós temos música, cor, roupa, batom, sapato, estação do ano, banda, sorvete... Tudo preferido. Nós nem sempre sabemos dar a resposta com muita precisão, mas que tem, tem. Minha aluna Lívia descobriu no espanhol a sua palavra preferida e eu, babona que sou, não pude ficar menos que orgulhosa.
Depois de trinta ou quarenta minutos de aula, ela teve vergonha de me explicar o que estava acontecendo, porque falava e o riso a interrompia. Quando percebi, me armei com uma história de filme - porque as pessoas se sentem mais confortáveis quando comparamos algo que elas fizeram com filmes - que eu adoro.
Em "Comer, rezar e amar" a personagem da Julia Roberts se apaixona pela palavra "Attravessiamo" que seria o verbo italiano para "atravessamos", "cruzamos" a rua. Ela repete a palavra algumas vezes, assume ser sua palavra favorita e isso trás ao filme um ar poético.
Contada esta história, Lívia disse "buenísimo" aliviada, aproveitando cada sílaba de sua palavra favorita.


Rascunho de uma poesia que pode ser muito boa se vier morar

nesse vasto mundão de meu Deus.

Epifânica

Eu, que me encontro em constante estado de contemplação quando de repente me dou conta de que entendi algo que nunca havia entendido. "Agora tudo faz sentido" é uma frase que se aplica sempre, mesmo que a descoberta tenha sido só pra mim, porque muitos antes já sabiam. Mesmo que se trate de como as engrenagens do relógio funcionam sem parar. Mesmo que seja uma breve explicação de como o calor nossos dedos faz o touch funcionar. Mas mais ainda quando se trata de algo do vasto universo das palavras.

Interpretação de texto

Agora que parei para pensar por mais de um segundo sobre essa expressão, sem deixar que ela passasse batida - mais uma vez - por meu pensamento, tentei olhá-la de outro ângulo:
Podemos, mais que "saber explicar" o que o texto quis dizer, interpretá-lo dramaticamente? Será que "interpretação de texto" veio da ideia de compreendê-lo e atuar meu ponto de vista, com minhas palavras, com meu improviso linguístico?

Interpretar seria então assumir o papel do texto, em postura humilde, e usar a minha voz para dar luz ao seu significado.

Na faculdade, li uma vez que só estamos certos de que entendemos algo lido quando conseguimos colocá-lo em nossas próprias palavras. Que lindo, não? A metalinguística da metalinguística.