segunda-feira, 29 de junho de 2020

Teresa

Minha máquina de costura chegou em 5 de junho de 2020 pelas mãos do Elcio e da família dele. Disseram-me que acharam a máquina no lixo, e a irmã dele que fez curso de corte e costura, quis pegar pra ela.

Acabo de descobrir através de um blog da Singer seu ano de fabricação: 1924. Ou seja, este ano ela faz 96. Este site tem várias listas que permitem verificar a correspondência do número de série com a data de fabricação. 

Dentro dela havia um caderno revestido de papel pardo kraft e umas réguas também de papel. Nas réguas está escrito "Elvira Carvalho Ventura" que imagino ser parente direta da dona do caderno por conta do sobrenome. Era Elvira mãe, avó, tia de Terezinha? Pensar nessa história, visualizar estas mulheres... Parece até filme.  

O caderno tem uma etiqueta branca de bordas vermelhas, parecida com as que se usava na escola ao encapar cadernos e livros, com o título "Costura" e abaixo o nome Terezinha Ventura. 
Logo na primeira página há um cabeçalho: "Juiz de fora, 6 de março de 1952."
O caderno é pautado, daqueles de tamanho pequeno, com poucas folhas, ainda não contei quantas. Folha por folha estão escritas receitas em caligrafia impecável de modelagem de roupas: saias, camisas, vestidos. Há colado na página esquerda um pequeno molde com detalhes de medidas e na página esquerda, a explicação detalhada de como fazer. Não resisti e fui olhar as últimas páginas para saber se Terezinha deixou alguma pista, algum endereço ou mais nomes nas folhas, algo mais que costura e, de fato, ela não usou todas as folhas só para a costura, mas deixou duas em branco.
Na última página, aquela que precede a contracapa do caderno, ela fez uma lista de músicas soprano e escreveu duas frases entre aspas à caneta. 

Música soprano

Cisne - Alberto Costa
Canção da felicidade - Barroso Neto
Guarany "Gentile di cuore" - Carlos Gomes
Improviso - Mignone
Canção da boneca - Offenbach (do film. Os contos de Hoffmann)
Colombetta - Peccia

"Agora só me resta: ter fé em Deus e aguardar por melhores dias no futuro."
"Uma alma que se eleva, eleva consigo o mundo."

A cada vez que o abro, fragmentos do papel ficam na minha mão, dissolvidos. A lombada da capa de papel pardo já se desfez completamente revelando a estampa pintada na capa original do caderno, em texturas de tons verde.
Espero a quarentena passar para levá-lo a um centro de restauração. 
Restaurar a máquina, restaurar o papel, quem sabe restaurar a história?

Eu, sol

Todas as pessoas são como pequenos sóis.
Algumas já nascem em céus limpos, 
Outras precisam aprender a arte
De esperar as nuvens passarem. 
Mas é certo que todos brilhamos
Para um planeta inteiro...
Às vezes só para uma pessoa.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Pedido

Um pouquinho todos os dias. Lembre-se do que já foi feito, continue fazendo. É muito mais fácil largar tudo e desistir. Por favor, encontre força para estudar e seguir o caminho.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Querência

Lutar contra esse desânimo. Abrir a boca pra falar algo que seja bom, positivo, que faça com que eu me sinta normal de novo. Cadê a normalidade? O que eu tenho que fazer para que tudo fique normal de novo? Será que é algo que eu possa fazer ou só esperar? O que está acontecendo? Eu quero ter um norte. Quero uma motivação.
Não fazer nada. Olhar para o teto e ficar só olhando.
Não quero falar, não quero parecer, não quero forçar, não quero incomodar, não quero fazer, não quero estudar.
Não quero nada. Mas queria muito querer.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Leitura pornográfica

Eu gostaria que seus olhos, curiosos, altivos, atentos
me lessem.
Que a ponta dos seus dedos, cuidadosos, lentos, calejados
me lessem.
Faz de mim um livro aberto.

Sinônimos?

Eu adoro o drama de cortar em versos e amo o impacto de uma frase bem longa dita de uma vez só. Me encanta o fato de pouco escrever e muito falar. Admiro as sucessivas reescrituras que o texto sofre para ficar cada vez melhor. Aprecio o som das palavras ditas em voz alta brandida ou sussurrada. Venero as viagens da significação. Reverencio, estimo e honro o estudo e a dedicação para as Letras. 
Gosto? Gostar não, eu não gosto. Porque quem "gosta" tem medo de sentir.

Vi-ra, vi-ra, vi-ra

Se não podemos agora,
cultivamos a esperança para o futuro.
Se é um problema,
dizemos que se fosse fácil não seria bom.
Se é uma queda,
nos vangloriamos por levantar. 
Nós estamos sempre nos enganando:
inventando desculpas,
romantizando problemas,
"ressignificando".

Se a mentira fosse uma gota no copo que é o mundo, eu gostaria de decidir se bebo mais um pouco ou se feliz morro de sede.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Aonde você está, pai?

Queria sentar um dia com você para tomar Guaravita no bar e conversar. De repente pediríamos uma batatinha que esfriaria porque a conversa seria muito boa e cheia de histórias. Sinto que seria bom conhecer você desde uma perspectiva adulta porque criança eu te vi como um homem muito grande, que sabia de muitas coisas de matemática, exagerado na hora de fazer compras e que colecionava chaveiros.
Pai, eu queria poder reclamar dos homens com você ainda que seja mais um deles. Falar que todos são mulherengos e iguais, pedir conselhos para saber como lidar com essa falta que eu sinto de um cuidado masculino. Carente, careta, cheia de problemas com figura paterna, olha o que eu me tornei.
Estou longe de te culpar, não é isso, só queria ter vivido mais com você.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Nova TAG

Andei pensando muito sobre as coisas que fazem eu ser quem sou e percebi que são bem poucas, mas muito importantes. São elas: o meu amor pela minha faculdade e tudo que a envolve (literatura, espanhol, livros, mangás e poesia), cultura (aqui entra música e dança), História, meu respeito e consideração pela diversidade, artesanato e Catarina.
Enquanto tomava um daqueles banhos de lavar a alma, sem luz artificial ligada sobre a minha cabeça, esfregando a bucha vegetal, tirei conclusões:
- Não gosto de luzes brancas artificiais em momentos em que ainda há sol (exceto as de natal que eu amo). A meia luz é sempre a opção mais confortável pra mim.
- Passar a bucha me acalma.
- Textos escritos para serem lidos são menos íntimos, afetados pelos olhos virtuais que virão no futuro. Falo por mim que quando sento para escrever minhas histórias fico atordoada pensando no que os leitores vão entender da frase x ou y.
- Eu gosto do silêncio.
- Também gosto de me lembrar das coisas que aconteceram comigo e transformá-las em histórias.

Foi por perceber que gostava muito desse último que resolvi criar uma nova TAG, para registrar essas lembranças.
"Fragmentos de memória"