sábado, 30 de setembro de 2017

Eu, pecadora

    Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
    de vossa alta clemência me despido;
    porque quanto mais tenho delinqüido,
    vos tenho a perdoar mais empenhado.


    Se basta a vos irar tanto um pecado,
    a abrandar-vos sobeja um só gemido:
    que a mesma culpa, que vos há ofendido,
    vos tem para o perdão lisonjeado.


    Se uma orelha perdida e já cobrada,
    glória tal e prazer tão repentino
    vos deu, como afirmais na sacra história,


    eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
    cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
    perder na vossa ovelha a vossa glória.


                                                                    Gregório de Mattos

    Do livro: "Livro dos Sonetos", LP&M Editores, 1996, RS 

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