terça-feira, 3 de outubro de 2023

Terça sem lei

Acordei, tomei café. Embalei a coleção de mangás que vendeu, coloquei um bilhetinho carinhoso para o cliente, resolvi mudar algo no meu armário. Tirei todo o aparelho de jantar japonês das caixas e lavei peça por peça. A cada prato e copo eu desejava ainda mais o dia que pudesse usar. Depois de guardar tudo e colocar novamente dentro do armário, senti que havia um sonho dentro de uma caixa e isso foi muito curioso. 
Arrumei uma gaveta de roupas, tirei algumas blusas para doar. Dobrei tudo bem dobradinho e senti sono. Meg estava solta no quarto, em paz, ora em silêncio, ora cantando para meu par de botas. Meg de botas. Que fofinha.
Deitei na cama e dormi. Dormi pesado, sem me preocupar com a Meg, com aulas, com nada. Acordei de repente e vi que ainda podia dormir um pouco mais. Nossa, eu daria tudo para dormir o dia todo e não sair mais de casa, mas acordei pra sair com a minha mãe, como havíamos combinado.
Pela primeira vez em muitas terças-feiras eu não estava atolada de aulas ou planejamentos. Pela primeira vez em muito tempo, tomei meu banho, escolhi uma roupa bonita e saí para ir a uma papelaria. Fui direto procurar papéis de carta, envelopes, carimbinhos e todos aqueles artigos fofos que eu sempre gostei de ver.
Fomos ao shopping, experimentei dez tipos de chás turcos diferentes, uma moça passou um perfume maravilhoso em mim (também turco), experimentei óculos de sol redondos, comi uma comida incrivelmente deliciosa e depois de tudo isso ainda fomos passear de carro.
Passamos pela Lagoa, Ipanema, Copacabana, depois subimos para Urca, sentamos na mureta e eu fiquei só pensando, só pensando. Com a cabeça ali, com a cabeça em mim, com a cabeça em vários lugares e pessoas. Desejei voltar sozinha àqueles lugares, num sábado, num domingo, numa sexta-feira. A feirinha para turistas de Copa, o calçadão, a Lagoa, o pedalinho, a mureta, o barzinho, aquele caminho ao lado do IME (que agora eu sei que é o IME, porque sempre foi um prédio qualquer perto do bondinho pra mim). 
Eu me sinto muito agradecida por tudo isso, a vida me sacode com uma mão e me presenteia com a outra. Obrigada.

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