Já disse
Vai lá ler a poesia
Alimenta
Igual quando vó diz que é
pra comer o legume
Poesia é remédio
Seu choro
é efeito colateral
Já disse
Vai lá ler a poesia
Alimenta
Igual quando vó diz que é
pra comer o legume
Poesia é remédio
Seu choro
é efeito colateral
Há dentro de cada um
Um oceano
Consigo sentir as minhas
marés
subindo e descendo
Consigo ouvir o barulho das minhas
ondas
em tempestades furiosas
Deságuam rios sobre o meu leito
E a água vem, cheia de vida
E a água vem, cheia de vida
Uma moça começou a tossir no meio da rua. Mas era tanto que as pessoas começavam a reparar. Reparar e parar para olhar até que se formasse aquela pequena aglomeração de uns que queriam ajudar e outros curiosos só de passagem.
- Ela está engasgada!
- Tussa, menina, tussa.
- Tem alguma coisa presa no pulmão?
- Deve ser fumante.
Ela fazia que não com dedo indicador. Mas para qual das perguntas? Não dava pra saber. Tossia tanto que perdeu a firmeza nas pernas, o joelho bambeou. Tentou apalpar parede para se equilibrar, os solavancos eram muito fortes. O corpo queria muitíssimo expulsar o que quer que fosse.
- Parece até que não quer colocar pra fora.
- Mas é tão bonita, que será que ela tem?
Teve quem quisesse chamar a SAMU, mas foram perdendo o interesse, a paciência, o tempo. Foram andando, se dissipando, voltando aos seus caminhos. Daqui a pouco ela melhora, se não melhorar, cai e morre. Se morrer, foi câncer, tanto jovem morrendo nos dias de hoje. De repente ela fez que ia pegar coisa na bolsa.
- É remédio que a senhorita tem aqui dentro? - Perguntou um estudante que se aproximou, vasculhando a bolsa pra ajudar.
Jogou tudo no chão: uma carteira, um espelho, chaves, balas de iogurte, canetas, um bloquinho de anotações. Olhou para o rosto desesperado da mocinha, uma mão na garganta, os olhos já marejados. Entendeu tudo.
- Você precisa. - Entregou o papel e a caneta a ela que aos poucos foi sarando, sarando, até que respirou aliviada e sorriu.