segunda-feira, 30 de novembro de 2020

As duas que me saíram hoje, uma depois da outra porque ele obedeceu e depois chorou

Já disse

Vai lá ler a poesia

Alimenta 

Igual quando vó diz que é 

pra comer o legume  


Poesia é remédio

Seu choro

é efeito colateral

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Mar iana

Há dentro de cada um
Um oceano

Consigo sentir as minhas
marés
subindo e descendo

Consigo ouvir o barulho das minhas
ondas
em tempestades furiosas

Deságuam rios sobre o meu leito
E a água vem, cheia de vida
E a água vem, cheia de vida 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O prontuário diria "lhe acometeu um mal súbito"

 Uma moça começou a tossir no meio da rua. Mas era tanto que as pessoas começavam a reparar. Reparar e parar para olhar até que se formasse aquela pequena aglomeração de uns que queriam ajudar e outros curiosos só de passagem.

- Ela está engasgada! 

- Tussa, menina, tussa. 

- Tem alguma coisa presa no pulmão?

- Deve ser fumante.

Ela fazia que não com dedo indicador. Mas para qual das perguntas? Não dava pra saber. Tossia tanto que perdeu a firmeza nas pernas, o joelho bambeou. Tentou apalpar parede para se equilibrar, os solavancos eram muito fortes. O corpo queria muitíssimo expulsar o que quer que fosse.

- Parece até que não quer colocar pra fora. 

- Mas é tão bonita, que será que ela tem?

Teve quem quisesse chamar a SAMU, mas foram perdendo o interesse, a paciência, o tempo. Foram andando, se dissipando, voltando aos seus caminhos. Daqui a pouco ela melhora, se não melhorar, cai e morre. Se morrer, foi câncer, tanto jovem morrendo nos dias de hoje. De repente ela fez que ia pegar coisa na bolsa.

- É remédio que a senhorita tem aqui dentro? - Perguntou um estudante que se aproximou, vasculhando a bolsa pra ajudar.

Jogou tudo no chão: uma carteira, um espelho, chaves, balas de iogurte, canetas, um bloquinho de anotações. Olhou para o rosto desesperado da mocinha, uma mão na garganta, os olhos já marejados. Entendeu tudo.

- Você precisa. - Entregou o papel e a caneta a ela que aos poucos foi sarando, sarando, até que respirou aliviada e sorriu.