Comecei a estudar superficialmente sobre marketing. Bom, pelo menos eu acho que Copywriting é um braço ou via da publicidade/propaganda. Só tenho uma coisa a dizer: o copywriting é a subversão da língua portuguesa (ou de qualquer língua em que estiver a serviço). Boas mentes deveriam pensar a língua em seu esplendor artístico, em sua potência literária e não em prol de estratégias de convencimento, conversão e multiplicação de leads.
Lembro-me da semana de palestras de profissões na escola. Selecionei cuidadosamente o que queria assistir, apesar de já saber o que eu queria e a que já me dedicava. Participei ativamente (e tão ativamente que me lembro) das palestras de Comunicação (com ênfase em publicidade/propaganda) e Marketing. Meu grupo e eu questionamos o professor e palestrante sobre as propagandas do Dolly Guaraná e ele deu uma resposta brilhante sobre seleção do público infantil e a permanência na memória coletiva pelo ódio da musiquinha. Você não tomava Dollynho, mas sabia cantar, cantava com seus amigos e falava/zoava sempre que podia, não é? Segundo o palestrante isso é basicamente a estratégia do "vai se lembrar pela força do ódio".
Beatriz assistiu a palestra de marketing comigo, Lara assistiu a de comunicação e parece ter gostado muito (gostou a ponto de ir cursar, veja só). Beatriz anotava as coisas num bloco pequeno, fazia perguntas pertinentes, era uma boa aluna, comunicativa, falante. Ela também estava no coral da escola comigo e já tinha escolhido, também secretamente, o que queria fazer da vida. Trocamos algumas palavras naqueles dias sobre termos gostado de Marketing e de boas faculdades que ofereciam esse curso, infelizmente nenhuma pública me vem a cabeça.
Numa dessas palestras, levantei a mão pra perguntar se a faculdade particular que estava se ocupando da organização daquele evento tinha graduação em espanhol. Não, não tinha. Subiu o ódio pela garganta e voltou pelo mesmo caminho, o que sobrou da minha revolta saiu pelos olhos.
Anos depois, entrei pra Letras, e, de maneira muito surpreendente, Beatriz também. Mas o sonho dela, o grande, o de verdade mesmo, não era aquele e ela não o deixou dormir. Bia está no meu Instagram e todas as vezes - todas as vezes - que eu a vejo no feed, ela está cantando. Do jeito que o sonho dela manda. E eu estou aqui, escrevendo uma crônica, porque é o que acontece quando uma genuína e saudosa estudante de Letras faz quando tenta ocupar o tempo com qualquer outro ofício ou profissão.