domingo, 14 de março de 2021

Marília de Dirceu

Lira XV

(...)

Propunha-me dormir no teu regaço
as quentes horas da comprida sesta,
escrever teus louvores nos olmeiros,
toucar-te de papoilas na floresta.
Julgou o justo Céu que não convinha
que a tanto grau subisse a glória minha.



Cartas de amor (parte 3)

 Agora entendo o porquê do meu dúbio sentimento em relação a elas. É algo que beira o arrependimento, mas tem orgulho da coragem que teve para ser produzida. Veja bem, por um lado, a pureza habita o momento da descoberta daquele que recebe, em forma de enxurrada, milhares de palavras cuidadosamente organizadas para falar-lhe em mil devaneios e voltas o que em resumo escreve-se "eu te amo". Por outro lado, quando porventura a relação acaba, aquela vontade de tomar de volta todas as palavras, deixar que pertençam apenas àquela distante fração de tempo em que foram escritas. Porque, se a pessoa lê de novo, anos depois de tudo ter dado errado, é como se visse eu me despindo novamente diante dela. E eu não quero que tenham acesso a esse momento mágico, a essa entrega total do meu corpo literário se não estão mais comigo. Mas... O que eu não entendo é a quem pertence essas palavras da carta de amor: a mim que senti, a pessoa que foi alvo, o papel que veiculou, ao espaço tempo que presenciou?  

 

Cartas de amor (parte 2)

 Estou tão envolvida com Antônio Candido que venho pensando em começar minhas cartas de amor com fundamentação teórica e citações diretas de espaçamento recuado. 

Meu amor, 

"As palavras organizadas são mais do que a presença de um código: elas sempre comunicam alguma coisa, que nos toca porque obedecem certa ordem."(CANDIDO, p. 180) Por essa razão, divido esta carta em: divagações iniciais, verdades incontestáveis sobre o amor, características que para mim são singulares, mas que todo apaixonado vê no ser amado e, por fim, juras ardentes e eternas.