Lira XV
(...)
Propunha-me dormir no teu regaço
as quentes horas da comprida sesta,
escrever teus louvores nos olmeiros,
toucar-te de papoilas na floresta.
Julgou o justo Céu que não convinha
que a tanto grau subisse a glória minha.
Lira XV
(...)
Propunha-me dormir no teu regaço
as quentes horas da comprida sesta,
escrever teus louvores nos olmeiros,
toucar-te de papoilas na floresta.
Julgou o justo Céu que não convinha
que a tanto grau subisse a glória minha.
Agora entendo o porquê do meu dúbio sentimento em relação a elas. É algo que beira o arrependimento, mas tem orgulho da coragem que teve para ser produzida. Veja bem, por um lado, a pureza habita o momento da descoberta daquele que recebe, em forma de enxurrada, milhares de palavras cuidadosamente organizadas para falar-lhe em mil devaneios e voltas o que em resumo escreve-se "eu te amo". Por outro lado, quando porventura a relação acaba, aquela vontade de tomar de volta todas as palavras, deixar que pertençam apenas àquela distante fração de tempo em que foram escritas. Porque, se a pessoa lê de novo, anos depois de tudo ter dado errado, é como se visse eu me despindo novamente diante dela. E eu não quero que tenham acesso a esse momento mágico, a essa entrega total do meu corpo literário se não estão mais comigo. Mas... O que eu não entendo é a quem pertence essas palavras da carta de amor: a mim que senti, a pessoa que foi alvo, o papel que veiculou, ao espaço tempo que presenciou?
Estou tão envolvida com Antônio Candido que venho pensando em começar minhas cartas de amor com fundamentação teórica e citações diretas de espaçamento recuado.
Meu amor,
"As palavras organizadas são mais do que a presença de um código: elas sempre comunicam alguma coisa, que nos toca porque obedecem certa ordem."(CANDIDO, p. 180) Por essa razão, divido esta carta em: divagações iniciais, verdades incontestáveis sobre o amor, características que para mim são singulares, mas que todo apaixonado vê no ser amado e, por fim, juras ardentes e eternas.