sábado, 23 de dezembro de 2017

Coração de prata

Nós humanos precisamos de símbolos. De todos os efeitos causados pela linguagem, os símbolos são aqueles universais que alcançam patamares que vão além das palavras. Transformamos em símbolos uma ideologia política, religiosa e até mesmo o sentimento pela pessoa amada.
Os sentimentos transformam-se magicamente numa figura, traços que podem ser desenhados, concretos, feitos de metal, madeira, plástico. A realeza passa a depender da coroa e não o contrário, a anarquia só se realiza de fato depois de pixar paredes, presa naquele A. 
Quando se perde um símbolo parece que tudo acaba. Esquecemos apenas que houve algo abstrato ao redor daquele objeto que o tornou significativo. O amor não é mais ou menos representado se você exibe o seu símbolo, criança. 
E mesmo ciente de tudo isso, há seis anos liguei em prantos para o meu amigo quando perdi o Triskle e agora choro porque quero de volta o meu pingente de prata. 
Porra, São Longuinho, eu prometi pular até não aguentar mais. 

sábado, 16 de dezembro de 2017

Poema da madrugada

Timidez
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…
– mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…
– palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
– que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
e um dia me acabarei.
Cecília Meireles

Jade

Hoje foi o dia em que dancei no improviso e ganhei o meu nome. Foi o dia em que uma aniversariante deu o primeiro pedaço de bolo pra mim porque, segundo ela, sou bonita por dentro e por fora.
Hoje foi o dia em que a Jade nasceu, no mesmo dia em que ela viveu um sonho tão bom, tão real que pareceu uma grande ironia do destino. O meu sorriso está que não cabe no meu rosto, não estou conseguindo lidar com o seu perfume na minha mão. Não estou conseguindo lidar com aquele sorriso e muito menos, muito menos com o seu abraço, o seu beijo.
"Um dia eu vou saber se você não está mentindo?"
"Quem sabe?"

Um sussurro no meu ouvido.
Eu também senti a sua falta.