quinta-feira, 17 de outubro de 2024

A prova da UERJ

Em 2012 fiz minhas primeiras provas de vestibular, oficialmente falando. Alguns colegas de sala começaram a experiência de concursos no ano anterior, só para testar, só para sentir. Eu não, fui fazer quando estava valendo. 

Em junho de 2012 acontecia a primeira fase da UERJ, universidade imponente, imensa em prestígio, organismo vivo e respirante. Pois caí num prédio que não era o principal, das rampas, que nunca tinha visto na vida. Cheguei no local com uma hora de antecedência e a primeira coisa que fiz foi derrubar água no meu único, intransferível, inimprimível, cartão resposta. 

Agi com a naturalidade de quem não sabe o real valor daquele papel, pedi pra ficar na frente do ar condicionado apontando a parte molhada pra ver se secava até a hora da prova. Pra muita gente, minha primeira tentativa tinha acabado ali. Imagina, perder um ano de vida, estudando tudo de novo, por 40ml de água no lugar errado. 

Meu cartão ficou sanfonado, mas seco, a fiscal avisou que ele poderia não conseguir ser lido. Tudo bem, mas ele foi lido. Quer dizer, tudo bem nada, tirei C naquela prova e C é uma nota horrível. 

Em setembro daquele mesmo ano, voltei eu pra UERJ, prometendo que não derrubaria água no cartão, vestindo a calcinha, a calça jeans, a blusa de anime e os brincos da sorte. Pra melhorar, estava com princípio de dor de garganta. Saí da prova e fui para o ponto de encontro que tinha marcado com o Rafa, desviei de todos os marketeiros da escola concorrente e lá estavam meu melhor amigo e um desconhecido que se tornou conhecido, que se tornou amigo, que sacudiu a minha vida nos oito anos que se seguiram. 

Não fui aprovada naquele ano e não vou dizer "não alcancei a nota", porque certamente há imaturidade, ansiedade, cansaço, dramas adolescentes, o último ano letivo escolar pra vencer e um caminhão de outros fatores que interferem, mas ninguém se lembra.

Em 2013 eu estava de volta. Subi as rampas, li a prova com calma. Havia um texto muito bom sobre os críticos literários. Havia questionamentos muito interessantes na prova de história e geografia. Cheguei em casa com as alternativas que marquei anotadas no cartão de confirmação. Uma hora depois do encerramento da prova o gabarito era divulgado. Só a UERJ fazia isso. Sentei pra conversar com meu irmão e fiquei minutos falando sobre como a prova da UERJ era incrível, bem formulada e equilibrada.

Gabriel queria saber como eu tinha ido, não meu ponto de vista crítico sobre a avaliação. Naquele ano eu tirei A. A mesma nota que as pessoas que querem medicina precisam tirar. Naquele ano eu fui aprovada pela UERJ, mas já tinha passado no Enem e cursado um semestre na UFRJ em Tão tão distante, por isso não fui, e aí já é outra história. 

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Sobre se manter fiel a velhos costumes que não fazem mal a ninguém

Passei uma vida estudando com lápis, borracha e caderno. Entendi que a dinâmica da cópia me ajuda a organizar os pensamentos. Sei que estou estudando de verdade quando passo por esse processo, porque estou atenta, porque toma tempo pra informação se fixar na minha cabeça. Essa metodologia me faz bem, funciona. 

Se algum dia me pedissem para estudar usando métodos eletrônicos, sob a justificativa de que isso faria bem para uma pessoa que eu prezo, eu tentaria. Mas sei que cedo ou tarde o incômodo seria tão grande e quando beirasse o insuportável, eu estaria experimentando culpa e arrependimento. 

O caderno, o lápis e a borracha estão mais do que ultrapassados, mas dizem respeito apenas à forma como eu lido com meu próprio aprendizado. Espero que nunca seja necessário alguém mudar algo tão primordial, saudável e sedimentado de si mesmo, ainda que isso signifique não corresponder às expectativas ou necessidades do outro.